O outro é o que eu vejo, o que eu quero que seja, o que ele pensa que é ou o que é de fato?
No filme “A mulher invisível”, o marido mostra espanto ao ouvir da esposa que ela o deixará. Ele não entende por que aquela relação tão perfeita não a satisfaz. Não consegue entender as razões que a fizeram não querer continuar o casamento. Ela diz que a relação era perfeita para ele, que via o que queria (ou conseguia) ver e vivia uma realidade criada por ele. Era como se ele tivesse criado um personagem e ela apenas interpretasse aquele papel. A esposa disse que, na verdade, ele nunca a tinha visto e que se sentia abandonada mesmo estando ao seu lado. Ele via a mulher idealizada em sua mente. Depois de muito sofrimento para aceitar a “verdade” de que tinha vivido uma farsa durante anos, ele concluiu que nunca a tinha visto porque ela, de fato, nunca tinha existido, se não na sua imaginação.
 
Parece que o ser humano tende a criar personagens e projetar no outro os valores que lhe parecem ideais, que muitas vezes nem ele mesmo acredita ter.
É como se o parceiro tivesse a responsabilidade de resgatar todas as relações falidas das quais já participamos, de alguma forma: um pai que fazia a mãe infeliz, uma mãe ausente, um amigo perdido, um filho desejado, e outras tantas. Projetamos na relação atual todas as expectativas e fazemos as transferências de afetos mais impensadas racionalmente. E o outro tem que ser capaz de desempenhar o papel que criamos com perfeição, caso contrário, não é “merecedor” de espaço na nossa estória.
Talvez a grande questão a ser pensada nos relacionamentos seja que só vemos o que queremos ou conseguimos ver e, muitas vezes, não vemos quem o outro é de fato.
No livro “Comer Rezar Amar”, Elizabeth Gilbert fala do “amor desesperado” e da necessidade humana de inventar personagens e exigir que nossos parceiros sejam o que precisamos e do quanto nos decepcionamos quando eles se “negam” a desempenhar os tais papéis.
Muitas vezes as pessoas terminam relacionamentos sejam conjugais, com amigos, ou profissionais, por concluírem, depois de muito desgaste, que aquela relação não as satisfaz e partem para outra, alimentando a expectativa de que, dessa vez, vai ser diferente. Mas como será isso possível se não permitirem ao outro que se mostre como de fato é e que seja visto por elas? E mais, se não permitirem que o outro se mostre como é e não o aceitarem com seus defeitos, não deixarão que a relação seja verdadeira e estarão sempre num monólogo egoísta onde só há espaço para os seus próprios desejos. Sendo assim, só trocarão de parceiros, repetindo os mesmo erros em todas as relações.
Leia mais...
Minimizar [-]